O nosso “barco” de defesa está à deriva, desprovido de estratégias e planeamento adequados. Corremos o risco de embater nas rochas da insegurança se não tomarmos medidas rápidas para reverter situação
Vivi num país onde se sai de manhã para trabalhar e não sabemos se regressamos a casa. Onde o beijo à mulher e aos filhos pode ser o último, com um dos maiores índices de criminalidade e insegurança no mundo: a África do Sul. Muitos que como eu passaram por esta experiência dão um valor muito especial a pequenos gestos como o de atender o telemóvel no meio da rua. Faz parte da natureza humana só dar o merecido valor quando não se tem. A acrescentar a isto importa dizer que sou filho de um Comando e sei bem que a segurança de um povo é a par da saúde, da educação e de outras áreas de máxima importância.
Os alertas estão todos aí. Assistimos à revolta dos agentes da PSP. Abrimos o campo de visão juntamos as peças e percebemos a insatisfação generalizada. Nas notícias e nos comentários dos especialistas vai aparecendo qualquer coisa, exceção feita ao episódio da Madeira e da recusa de embarque dos 13 militares no navio destacado para acompanhar a passagem da embarcação russa em águas territoriais, que se tornou publico, muito pelo espetáculo dado pelo Chefe do Estado Maior da Armada, Gouveia e Melo. Como cidadão não estou refém da disciplina militar e por isto partilho esta minha preocupação com o rumo que se está a tomar: O Barco está à deriva e corremos o risco de embater nas rochas.
Sim já todos percebemos que estamos a viver tempos incertos e desafiantes, marcados por conflitos globais e instabilidade geopolítica. Existe a necessidade de estar atento à fragilidade evidente das Forças Armadas Portuguesas que compromete a segurança nacional. Estive a analisar dados e não consigo ficar tranquilo com a disparidade que existe entre o número autorizado de militares e o efetivo atual, cerca de 20 mil militares em serviço, bem abaixo dos 30.840 autorizados. A nossa capacidade operacional não está com robustez necessária para enfrentar os desafios emergentes.
Num mundo com cada vez mais conflitos armados e com a Europa a enfrentar crises variadas, desde migrações massivas até ameaças cibernéticas, é imperativo que as nossas Forças Armadas sejam mais do que uma resposta, mas sim um exemplo internacional de competência e preparação.
Pensar no futuro, com visão e planeamento adequado para reestruturar as Forças Armadas é por demais urgente.
O nosso “barco” de defesa está à deriva, desprovido de estratégias e planeamento adequados. Corremos o risco de embater nas rochas da insegurança se não tomarmos medidas imediatas para reverter esta situação. A falta de investimento e atenção às Forças Armadas representa não apenas uma falha estratégica, mas uma ameaça real à segurança nacional.
Fonte: https://observador.pt/opiniao/a-psp-a-gnr-e-as-forcas-armadas/