Tim Vieira: “Queremos Uma Geração Corajosa que Faça Acontecer”

Em entrevista ao Empreendedor, Tim Vieira, fala sobre a importância de fomentar uma geração de jovens corajosos e empreendedores.

Tim Vieira dispensa apresentações. Conhecido do grande público português desde a sua participação no programa o Shark Tank Portugal, é um empresário e investidor com uma visão positiva sobre a vida. Filho de pais portugueses, Timothy Vieira nasceu na África do Sul e já viveu em Angola. Hoje tem investimentos em Angola, Moçambique, Gana e Portugal em diversas áreas, entre os quais as startups. À frente da Brave Generation Academy, Tim descreve nesta entrevista, como a inovação e o empreendedorismo, de mãos dadas, podem ajudar na transformação do mundo.

Porque decidiu deixar a África do Sul e escolher Portugal para viver e investir?

Eu acho que é fácil responder. Eu gosto muito de pessoas. Os portugueses são autênticos e eu gosto de pessoas autênticas. Estamos aqui no centro do mundo.

Estamos a seis horas de Nova Iorque, voos diretos para África, a duas horas de Paris por exemplo. Na minha opinião, a posição geográfica do país é a melhor do mundo para se fazer negócios e para investir.

Por outro lado, a diversidade do país, a cultura e a mistura incrível de gentes, caracteriza uma identidade que é uma grande vantagem a todos os níveis, no acolhimento às cores, sotaques e forma de estar diferentes, que acabam por se tornar uma marca do que é ser português.

“Portugal tem muito mais pontos positivos do que negativos”

Quando falamos em investimento, eu penso que de momento está um pouco complicado, não existe uma estabilidade em que investidores possam confiar e investir mais no país. As coisas mudam sempre de repente. Não deixa de ser um grande país para investir, mas poderia ser melhor.

O que me faz viver e investir aqui é a vontade de olhar para o futuro com um plano, uma visão e uma missão. Numa visão geral, Portugal tem muito mais pontos positivos do que negativos.

Lisboa foi eleita a capital da inovação europeia em 2023. Portugal é já um exemplo para o mundo ou ainda há muito para evoluir?

Acho que é bom ser um exemplo. Tivemos vários casos de sucesso, muitos unicórnios e muitas startups que começaram cá. Num processo natural, elas acabam por receber o investimento estrangeiro, como também dão o salto para se internacionalizar. Mas há ainda muito o que melhorar.

Não vejo que o ecossistema empreendedor seja já robusto. Pelo contrário, apresenta algumas fragilidades e só apresentando mudanças estruturais é que despertamos mais confiança no nosso ecossistema empreendedor e de inovação. Se mudarmos a mentalidade e os processos de regulação, seria tudo muito mais simplificado. Isso por si só já mudaria a cultura de startups existente.

Uma das opções em que acredito, por exemplo, seria atribuição de Golden Visas para investidores em startups. No entanto, isto faria parte de uma visão global, que ainda não existe da parte do Estado, não me parece, de momento, que as coisas estejam claras para onde se quer ir. O Estado por vezes é uma barreira e não um parceiro, o que não ajuda este ecossistema. Na minha opinião o Estado deveria ser um motor para este processo de inovação e mudança, fazendo parte da solução e não do problema.

A BGA já está presente em 5 continentes. Quais são os próximos passos e qual o seu projeto de expansão?

Portugal é um grande case study. Foi um grande laboratório para nós. Temos 40 hubs com mais de mil crianças a estudar. Não é um mercado fácil, temos muitas legislações que envolvem e limitam a educação. Porém, temos uma constituição que permite aos pais uma liberdade de escolha quanto à educação dos filhos. Com base nisso, demos esta escolha aos pais, sempre adaptados à legislação portuguesa.

Quando começámos a internacionalizar, encontrámos mais facilidades, pois este modelo de escola já é aceite em muitos países. Inclusive, alguns deles promovem estes novos métodos de ensino.

“Queremos ajudar a ter uma geração mais qualificada e corajosa, que faça acontecer”

Quando digo que Portugal foi o nosso laboratório é porque as diversas dificuldades impostas, fizeram com que nos tornássemos melhores e mais fortes. Estando em nove países e a entrar brevemente em mais três, podemos dizer que estamos mais musculados por ter começado em Portugal, porque aprendemos mesmo muito, principalmente tendo a inovação como base.

Os nossos planos futuros incluem podermos entregar para as escolas tradicionais este modelo, para iniciar a transformação através de um ecossistema educacional mais completo. Penso que aí é que será dado o grande salto: ter uma BGA Hub em cada escola tradicional.

Queremos ajudar a ter uma geração mais qualificada e corajosa, que faça acontecer, queremos uma geração Brave!

A fuga de talentos é um problema que o país tem vindo a enfrentar. Como se conseguiria o Tim Vieira formar uma nova geração de profissionais e de empreendedores, num país com obstáculos existenciais, como as rendas altas, os salários baixos e poucos incentivos?

São necessárias transformações estruturais. Portugal é um país pequeno. Com um plano bem estruturado e implementado eu acredito que poderíamos mudar esse quadro.

Precisamos usar as vantagens do país, podemos reter aqui talentos que venham a compor o tecido social e económico, se estes talentos começarem a perspetivar um futuro com políticas menos complexas e mais executáveis, também é preciso inovação na gestão de um país!

A desigualdade económica e intergeracional é caracterizada pelo desemprego jovem, como guiar as novas gerações para esta realidade?

Eu acho que se os jovens não tiverem os skills corretos, e que são necessários para enfrentar o mercado de trabalho, não há emprego para eles. Volto a dizer que é uma questão estrutural e seria necessário fazer grandes transformações, implementar novos modelos, temos de atrair mais investimento, aumentar a capacidade do país de criar um ecossistema empreendedor e gerar assim mais emprego.

“Precisamos de estar à frente das crises, antecipá-las, como se estivéssemos a surfar uma onda”

Questões tributárias, legislação e outras inerentes à geração de emprego, precisam ser repensadas na sua estrutura, para assim gerar mais empregos. Andamos um pouco à deriva e a contar com a sorte. Não podemos dar-nos a este luxo. Precisamos estar à frente das crises, antecipá-las, como se estivéssemos a surfar uma onda, se não estivermos à frente dela, seremos esmagados.

Quando viaja pelo mundo por conta dos seus projetos, qual é a perceção que as pessoas de fora têm sobre o nosso país?

Quando chego a um país e digo que sou de Portugal, sou sempre bem recebido. As pessoas lembram sempre do Ronaldo, das ondas da Nazaré, dos pastéis de nata, mas também falam muito sobre várias características do nosso país que já estão a ser conhecidas internacionalmente. Temos grandes produtos da Marca Portugal e temos Portugal com uma grande marca. É uma grande vantagem ser português, e uma grande vantagem sermos reconhecidos pela nossa inovação, que é uma das nossas grandes skills.

Os mercados gostam muito de nós.

Recentemente, o Tim declarou que Portugal poderia ser um país Unicórnio, se fosse gerido tal e qual como uma empresa. Que caminhos tomaria para que isto acontecesse?

Obviamente que um país não é uma empresa. É um paralelismo. Mas poderíamos começar pela equação da gestão. Precisamos ter as pessoas certas a gerir. Mais gestão com competências, mais investimentos direcionados e bem aplicados. Foco nos resultados e não na política pura e dura.

Saúde, educação, transportes, tomemos os privados como exemplo, para tornar a gestão pública rentável e autossuficiente. Afinal os maiores acionistas desta “empresa” são os portugueses.

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